Confira depoimentos sobre a relação de Felipão e Ronaldo Campeões do mundo em 2002 falam sobre os, hoje, rivais em campo

Felipão e Ronaldo em treino da Seleção na Malásia em 2002 (Crédito: Divulgação)

Lancenet

Um técnico em seu auge. Um atacante retornando de lesão e chegando à artilharia da Copa do Mundo com oito gols. Juntos, conquistaram o mundo pelo Brasil. Luiz Felipe Scolari e Ronaldo, neste domingo, são rivais no clássico entre Corinthians e Palmeiras, no Pacaembu.

Em clima de reencontro e boas memórias, o LANCENET! foi atrás de pessoas que conviveram com a dupla durante a Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão, há oito anos. Abaixo, você confere cinco depoimentos de companheiros dos dois e uma entrevista com o médico José Luiz Runco, um dos principais responsáveis pela recuperação do atacante. Confira o que eles disseram sobre a relação dos dois:

Luis Alberto Rosan (Fisioterapeuta do São Paulo)

"Como toda família, às vezes tinha problemas. Mas era coisa de dia a dia, de treinamento. Nada demais. Felipão sempre disse que sentiríamos saudades de tudo aquilo. Ele estava certo."

Antonio Carlos Pracidelli (Preparador de goleiros do Palmeiras)

"O que marcou foi quando o Felipão fez questão de levá-lo à nossa concentração em Teresópolis, em um certo jogo das Eliminatórias, quando ele ainda estava machucado, para que sentisse o gostinho. Ali começou a recuperação do Ronaldo. Felipão pediu para que ele fizesse de tudo para estar apto para a Copa. E ele fez."

Ricardinho (meia do Atlético-MG)

"O relacionamento dos dois era ótimo. O Ronaldo como referência, o Felipão como um líder. Felipão sempre foi agregador, criou um bom ambiente na Copa. Ele passava muita confiança para os jogadores de frente, dizia: "Vocês vão decidir o jogo para mim". Essa confiança foi muito importante. Ronaldo conseguiu os resultados por ter um técnico como Felipão mas, mais do que isso, porque queria muito ganhar a Copa. Ele se preparou muito, estava voltando e poucos acreditavam nele. Não para responder mas, depois do que ocorreu na Copa de 98, ele estava esperando muito aquele momento."

Luizão (atacante aposentado)

"A relação era muito boa. O Felipão pegava muito no pé dele, desafiava, falava coisas para ele ficar irritado. Dizia que era lento, fazia brincadeiras para que ele se motivasse. Mas Felipão confiava muito nele. Às vezes brigavam, o Felipão saia do treino e deixava o Murtosa apitando, ficava puto, e em algumas vezes era por culpa do Ronaldo, que era preguiçoso no treino. Mas a relação naquele grupo era muito boa."

Juninho Paulista (meia aposentado)

"Não lembro de nenhuma história especial, não. Só que o Felipão não dava folga para ele. Por ser o Ronaldo, às vezes ele estava acostumado com tratamento diferenciado, mas Felipão tratava todo mundo igual. Não que ele quisesse ter regalias, não é isso. Mas ele estava acostumado até a ter outros treinos. E com Felipão não. Acabou sendo bom para ele. O grupo também apostava no Ronaldo."

Confira um Bate-Bola com José Luiz Runco

LANCENET!: Felipão convidou Ronaldo a se concentrar com a Seleção mesmo não podendo jogar por estar machucado?
RUNCO: Teve esse fato, sim. Ele foi fazer uma visita à Seleção em Teresópolis, ninguém tinha chamado. Aí Felipão o convidou para ficar e ele ficou. Foi às vésperas de um jogo pelas Eliminatórias, mas não lembro qual exatamente.

LANCENET!: Ronaldo não tinha uma sequência de jogos havia mais de dois anos. Quando você e Felipão conversaram a respeito disso?
RUNCO: Na Arábia Saudita, em fevereiro de 2002, perto do Carnaval. Lá, Felipão disse que Ronaldo estava indo (da Itália) para o Brasil, mas ele não sabia o que Ronaldo faria. E pediu que eu visse isso ao chegar no Rio. Na sexta-feira (8 de fevereiro), antes do Carnaval, encontrei Ronaldo e tivemos uma longa reunião. Perguntei o que ele queria. Ele disse que o joelho (direito) não era mais o problema, a questão era de ordem muscular. Ele já havia sofrido várias lesões. E disse que estava interessado em trabalhar no Brasil, fazer uma reabilitação consistente para poder voltar a jogar. Eu respondi que seria árduo para ele, que teria de trabalhar em três turnos no mesmo dia... E ele topou. Começamos a trabalhar naquele Carvanal mesmo e ele se dedicou muito mesmo.

LANCENET!: E quando você percebeu que ele seria realmente capaz de ir para a Copa?
RUNCO: No amistoso contra a Iugoslávia (em 20 de março). Ele jogou 45 minutos e foi muito bem. Depois da partida, passei para Felipão que eu via Ronaldo com grandes chances de se preparar e chegar em alto nível na Copa. Porque nos 33 dias em que havia ficado no Brasil, havia se dedicado de verdade. Naquele dia, acho que o Felipão decidiu levá-lo ao Mundial. Foi nosso grande parâmetro.

LANCENET!: Mas em nenhum momento você teve dúvidas?
RUNCO: Não, pelo contrário. A dedicação dele me deixava confiante cada dia mais.

LANCENET!: Ele chegou a faltar em algum dos trabalhos?
RUNCO: Que eu lembre, ele faltou uma única vez, a um treinamento de manhã. Ele foi sincero, disse que tinha dado uma extravasada na noite anterior. O que era perfeitamente normal. Mas ele sempre mostrou-se interessado demais, sempre cumpridor do horário, com uma motivação muito grande. Desses 33 dias de trabalho intenso, em uns 23 ele trabalhou em três turnos.

LANCENET!: Que trabalho era feito?
RUNCO: Fisioterapia, musculação, trabalho físico intercalado com técnico. Ele tinha suporte de todos os integrantes da comissão. Trabalhamos com o (fisiologista) Paulo Figueiredo, a nutricionista Silvia Ferreira, o Francisco Gonzalez, que não tinha vínculo com Federação, o Nilton Petrone (o Filé), que era o fisioterapeuta particular dele.